Numa manhã de Verão, uma ambulância dirige-se para a serra, um homem com os seus 30 anos suicidou-se com um tiro de caçadeira.
Era casado, tinha 3 filhos (dois gémeos rapazes de 4 anos e uma menina de 2 anos). Pedro, era o seu nome, um empresário de sucesso, o seu avô deixara-lhe uma das empresas como herança, sua mulher Ana Paula de 28 anos, secretária de um gabinete de juízes. Era uma mãe exemplar.
Ana Paula preparava-se para mais um dia de trabalho. Antes de sair de casa, com os filhos, recebe um telefonema do hospital a dizer que o marido tinha falecido, sem reacção deixa cair o telefone, permanece estática por alguns minutos, tenta entender qual seria o motivo que o levaria a fazer tal coisa.
Sai de casa com os filhos e leva-os para o colégio, de seguida vai para o hospital, ainda não tinha caído na realidade, dirige-se ao balcão do hospital e pergunta: “ Foi aqui que deu entrada, esta manhã, um homem chamado Pedro?”, do outro lado responde: “ Podia dar-me mais informações há cerca desse senhor?”, Ana Paula, com o olhar fixo no rosto do indivíduo que estava a atender, começa a lacrimejar e diz: “ Telefonaram-me esta manhã do hospital a dizer que o meu marido tinha falecido”, António, é o nome que estava gravado na chapa que trazia ao peito, percebeu de imediato do que se tratava. Chamou um enfermeiro, para acompanhar Ana Paula até à morgue. No caminho, o coração de Ana apertava cada vez mais o silêncio era contínuo. Ao chegarem à porta da morgue Ana pára, respira fundo, contem as lágrimas e segue em frente, o enfermeiro olha-lhe nos olhos e pergunta: “ Está preparada? Quer tomar alguma coisa?”, Ana não responde, simplesmente abana a cabeça com um não e aproxima-se do corpo. O enfermeiro, levanta lentamente o lençol que cobria Pedro, sempre de olhos postos em Ana. Assim que lhe vê os cabelos deixa cair a carteira, tudo o que tinha dentro dela espalhou-se no chão, deita as mãos ao rosto e chora compulsivamente, o enfermeiro deixa o lençol e agarra Ana Paula, puxa uma cadeira para a sentar e desmaia, o enfermeiro cuidadosamente mete-a no chão e chama os colegas para o ajudar.
Ana Paula assim que acorda, pede para o ver novamente, mais calma e ao mesmo tempo em estado de choque diz para o enfermeiro: “ Sim é ele, o meu marido”, apanha tudo do chão mete na carteira e sai em passos largos. No caminho ouve uma voz que lhe sussurra ao ouvido: “Amo-te muito, cuida bem dos nossos filhos”, pára... apoia-se na parede e senta-se no chão, as lágrimas caem-lhe rosto fora, encheu os pulmões, respirou fundo e levantou-se.
Já no carro, Ana recebe um telefonema do escritório e com voz trémula diz: “ Hoje não vou trabalhar” e desliga. No caminho a última imagem de Pedro é os cabelos e o lençol branco que cobria o corpo.
Já estava a ficar tarde e Ana vai buscar os filhos ao colégio, assim que chega eles correm para ela e dão-lhe um abraço (as crianças estavam felizes), Ana contem as lágrimas, pega nos filhos e vai para casa. Já em casa e com o jantar pronto, sentou-se no sofá a pensar na melhor maneira de dizer aos filhos o que tinha acontecido ao pai, mas não teve coragem. Foi para a cozinha preparar as coisas, enquanto os filhos brincavam na sala, o seu estado de espírito começa a alterar, manda com os tachos para cima do fogão, fecha as gavetas com toda a força, os filhos assustados perguntam à mãe: “ mãe o que se passa?”, ela com um tom de voz áspera responde: “ Vão brincar que já vos chamo”, assustados sentam-se na mesa a ver a mãe preparar a comida. Entretanto a comida queima-se, furiosa com tudo aquilo faz rapidamente nestum para deitar os filhos, já não se ouvia uma única palavra naquela casa tudo se resumia a gestos bruscos.
Ana, cansada vai deitar-se... nisso vê Pedro, esfrega os olhos e deita-se. Enroscada a seu lado começa a chorar, Pedro abraça-a e diz: “amo-te muito”, ela não estava a acreditar que aquela voz seria a mesma que a do hospital, desorientada começa aos gritos acordando toda a gente incluído os filhos, eles por sua vez também gritam, ela levanta-se da cama e corre para junto dos filhos, tranca a porta e manda-os calar.
Pedro calculou que seria um pesadelo que Ana estaria a ter, e foi atrás dela, bateu à porta e chama por todos, mas eles não respondem, voltou para o quarto ficando à sua espera e deixou-se dormir. Já com os filhos a dormir e um silêncio horripilante, Ana sai do quarto vagarosamente, em bico dos pés vai até à cozinha pega num copo com água e debruçasse na janela, solta uma gargalhada ironia. Pedro acorda e vai ter com ela, ela vira-se para a porta onde Pedro a admirava e pergunta-lhe: “tu não estas vivo, pois não? Quero acreditar que estás morto, por favor não me atormentes”, Pedro caminha na sua direcção dizendo: “mas quem te disse que eu estava morto? E porque razão estaria morto?”... .